Altair Sales Barbosa
Dr. em Antropologia e Geociências
Smithsonian Institution de Washington DC. USA
Pesquisador do CNPq.
Membro Titular do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás
Estudos de estratigrafia e sedimentologia, apoiados em diversas datações radiométricas tem demonstrado que o padrão climático, com uma estação seca e outra chuvosa, tem operado nos chapadões centrais da América do Sul, área ocupada por cerrado desde pelo menos 45 milhões de anos.
Do final do Pleistoceno e inicio do Holoceno, quando populações humanas já ocupavam as grutas e cavernas existentes no cerrado, a estratigrafia mostra de forma clara essa oscilação, sendo a estação chuvosa demonstrada por camadas claras e a estação seca explicitada por sedimentos escuros. Este padrão é tão evidente, que não deixa dúvidas quanto a sua existência pretérita.
Portanto o discurso da diminuição da vazão dos rios associado a mudanças climáticas, não passa de uma falácia.
Não é preciso ser especialista para enxergar o prejuízo irreversível causado nas áreas do cerrado, basta acessar uma imagem de satélite da região, para constatar grandes quadrículas nos interflúvios com monoculturas e grandes círculos desmarcados pela irrigação de pivôs. Os motores que fazem funcionar as máquinas da irrigação são tão possantes que são necessárias baterias de motores auxiliares, para coloca-los em operação. Quando este complexo começa a funcionar os rios sofrem impactos gigantescos, alguns param totalmente do ponto de captação para baixo. Pensem., Se fossemos animais aquáticos o que fariamos? E, se fossemos população ribeirinha, vivendo da produção familiar, ou se vivêssemos em alguma cidade ou povoado abaixo destes sistemas, qual seria a nossa reação?
Com relação aos animais a resposta é fácil, mas com relação aos humanos a resposta é difícil, pois os humanos agem muitas vezes por interesses individuais, as vezes tem conhecimento dos problemas porém, pode lhes faltar a consciência, elemento fundamental que o transforma em cidadão e o faz agir coletivamente, ou seja, em benefício da coletividade. Muitos, sentem medo de lutar contra os lobos, - . os donos do capital, mal sabendo, que estes já lhe tiraram quase tudo, os ideais, o bem-estar, os amigos, falta apenas lhes tirarem a alma, se é que isto já não aconteceu. Seria bom neste momento indagar: Em que aurora se escondem e como esperam o amanhecer?
Já escrevi centenas de artigos sobre o assunto, falando sobre as consequências da retirada da cobertura vegetal nativa, dos aquíferos, do futuro das águas. E chamando atenção para as consequências que virão em breve, se este modelo predatório de relação com o território continuar.
Quase nada teve ressonância, um outro idealista ou grupo de idealistas empenha a bandeira da construção de um futuro melhor, mas diante de tanto poder só encontram ao final da luta uma espécie de cadáver no calabouço. E, o entusiasmo que o impulsiona, qual uma luz de candeia, vai apagando pouco a pouco.
Nunca entendi a voracidade da ganância dos grandes empresários rurais, muitos dos quais nem conhecem a região, mas suas ações aniquilam tudo. Não tem compromisso com o estado nem com as futuras gerações. Por isso, menos ainda entendo a ação dos políticos e de alguns advogados nacionais, que com unhas e dentes protegem esses exterminadores e provocadores de entropias ambientais e sociais. Serão cegos? Mal intencionados? Onde foi que escondeu a luz dos olhos deles?
Não tenho respostas.
Também não sei onde mora a aurora daqueles que um dia despertaram para a esperança.
Só uma certeza eu tenho: No silencio acelerado do tempo nossos rios vão morrendo.