A flora do cerrado produz uma grande quantidade de frutos, fibras, medicamentos, corantes e produtos ainda desconhecidos. Segundo Silva et al. em 2015 já existiam cerca de 80 espécies catalogadas, que são aproveitadas pelo homem. Quem já ouviu a música "Frutos da Terra" por Marcelo Barra, pode ter uma ideia da quantidade de frutos que o Cerrado produz. Mas hoje vamos falar do Baru, fruto da espécie dipteryx allata, que se apresenta como um dos mais promissores dentre todos os frutos do Cerrado.
O fruto do Baru, também conhecido como Cumaru, Feijão de Índio ou Cumbaru, dependendo da região, possui uma castanha rica em ferro, cálcio, zinco e princípios bioativos que ajudam na proteção das células contra ataques virais, bacterianos e radicais livres. Torna-se um excelente antioxidante para o organismo de quem a consome. Antioxidantes são essenciais para o retardamento do envelhecimento e do surgimento de doenças imunodegenerativas. Sua composição, rica em Ômega 3, 6 e 9, tornam-no importante aliado no aumento da imunidade do organismo. Mais potencialidades do uso do Baru vêm surgindo: Reis et al. 2015 tem pesquisas mostrando o efeito supressor da castanha sobre o colesterol ruim. A Unesp de Sorocaba atualmente pesquisa o efeito antiofídico do dipteryx allata.
O fruto do Baru já vem sendo explorado economicamente desde a década de 90, baseado exclusivamente no extrativismo. O plantio da cultura do Baruzeiro só se iniciou a partir de 2003 e ainda são poucos os plantios comerciais nos estados de Goiás e Mato Grosso do Sul.
O retorno do plantio de médio a longo prazos afasta os investidores, mas para quem tiver paciência o retorno pode ser gratificante, conforme mostraremos com os números abaixo:
Segundo a EMBRAPA-DF o espaçamento apropriado para o plantio do Baru é de 7 x 7 m. O que dá aproximadamente 200 árvores por hectare.
Um Baruzeiro começa, a partir dos 8 anos de idade, a ter uma produção de até 120 quilos de frutos por hectare em média. Lembrando que o Baruzeiro tem uma produção sazonal. Essa produção tende a aumentar conforme a árvore cresce até aos seus 50 a 60 anos. Já chegou-se a colher 500 quilos de frutos em uma única árvore adulta.
Mas, para efeito de cálculos de produção, ficamos em 120 quilos por árvore:
Então, 200 árv./ha produzindo 120 kg/árv produzirão 24.000 quilos por hectare. A castanha rende 5% desse peso, o que resultaria em 1.200 kg de castanha por ha. Além da castanha, o fruto produz a polpa que representa 50% do peso do fruto, o que resultaria em 12.000 kg por ha do mesocarpo do Baru. Sem contar com aproximadamente 11.000 kg do caroço, uma matéria lenhosa com alto poder calorífico.
Monetizando essa produção a preços de mercado, ressaltando que o mercado da polpa ainda não é sólido, teríamos:
-1.200 KG de castanha x R$50,00/kg=R$ 60.000,00/ha.
-12.000 KG de polpa x R$25,00/kg=/R$ 300.000, /ha.
-11.000 KG de caroço x R$200/ton=R$ 2.200/ha.
Totalizando, um hectare de Baru pode produzir 13.200 kg de alimento, mais 12.000 kg de biomassa; portanto, mais do que a produção da monocultura da soja/milho. Mas, ao mesmo tempo é bom ressaltar que o cultivo do Baru não deve ser realizado em monocultura. Sendo interessante o seu cultivo em sistema agroflorestal, consorciado com outras espécies do cerrado, como o jatobá, a mangaba, o murici, a gabiroba e outras.
Totalizando a receita bruta um hectare de Baru pode render R$ 362.000,00. Portanto, muitíssimo superior ao rendimento de culturas convencionais.
Para tanto, muitos desafios precisam ser enfrentados para a consolidação da cultura do Baruzeiro. Dentre eles estão:
-Divulgação do potencial alimentar e farmacológico do mesocarpo do Baru. A empresa Baruzeiro já possui um produto feito 100% com a polpa do Baru que ela chamou de "chocolate do Baru®", por ser semelhante a um achocolatado, com a vantagem de ser doce naturalmente.
-Organizar as cadeias de produção para que se tenha uma produção mais constante e um mercado mais paramentado. O problema do mercado do Baru não é a demanda, essa é forte e crescente, está na oferta ainda pouco sistematizada. Implementação de pesquisas científicas sobre o potencial nutricional e farmacológico do Baru. Os poucos pesquisadores que já pesquisam o Baru afirmam que seu potencial é enorme.
-Mecanização da quebra do coco do Baru, que é ainda manual.
A cultura do Baruzeiro é muito recente, ela ainda engatinha, mas pelo potencial de produção, de rusticidade de suas árvores, não dependendo de insumos químicos ela é muito sustentável do ponto de vista econômico, ambiental e social, pois gera muito mais emprego do que a monocultura convencional. Ela só precisa de tempo para se estabelecer, mas mesmo nesse tempo de espera de crescimento da planta ela é benéfica ao meio ambiente, pois estará captando Co2 da atmosfera, contribuindo para o esfriamento global.
No próximo artigo estaremos abordando como a Baruzeiro, uma empresa que faz desde o plantio até o beneficiamento na sua agroindústria dos frutos do Baru e Jatobá, está viabilizando a cultura do Baru.
César Augusto Sandri
Eng. Agrônomo Especialista Lato Sensu em Solos e Meio Ambiente .
Referências Bibliográficas:
REIS, Larissa Lélis Teixeira. Efeito da farinha da amêndoa de baru (Dipteryx Alata Vog.) na alteração do perfil lipídico e do estresse oxidativo induzido por dieta hipercolesterolêmica em ratas. 2015. 114 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Biológicas) - Núcleo de Pesquisas em Ciências Biológicas, Instituto de Ciências Exatas e Biológicas, Universidade Federal de Ouro
Preto, Ouro Preto, 2015R
Silva, S. M. M., Silva, C. A. G., Bazzo, Y. M. F., Magalhães, P. O., & Silveira, D. (2015b). Eugenia
Dysenterica Mart. Ex DC. (cagaita): Planta brasileira com potencial terapêutico. Infarma Ciências Farmacêuticas, 27(1), 49-95.